Programa de Pós-Graduação em Antropologia

“Estão sempre observando a gente na favela!”: a rede de suspeições entre uma concessionária de energia elétrica, terceirizados, consumidores e domínio armado em Duque de Caxias (RJ)

Autor(a):

Vinícius Cruz Pinto


Palavras-chave:

risco; domínio armado; conforto térmico; furto de energia; suspeição.


Resumo

Esta tese tem como objeto os riscos associados à violência que trabalhadores terceirizados, que prestam serviço para a concessionária de energia elétrica Enel, enfrentam na realização do seu ofício em situações de corte de energia provocada por constatação de perdas não técnicas.

Os riscos ergonômicos, acidentes, quedas e outros vinculados aos serviços de eletricidade são previstos pelas normas regulamentadoras (Portaria 3.214/78) do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, do extinto Ministério do Trabalho, e são objeto constante de monitoramento pela empresa.

Porém, a configuração urbana em determinadas localidades da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro está sob o jugo do domínio armado que disputa a constituição de um mercado ilegal, no qual a energia elétrica é um dos bens valiosos, fazendo emergir um novo tipo de risco.

Os trabalhadores estão expostos a relações de coação, ameaça e até agressões físicas que são provocadas pela suspeição e desconfiança característico dessa fronteira entre o mercado legal e o ilegal, quando se trata de estratégias de “venda” do furto de energia elétrica como um fenômeno social de larga escala.

A pesquisa permitiu observar que as relações de suspeição que esses trabalhadores terceirizados vivenciam não ocorrem apenas a partir do convívio forçado com traficantes ou milicianos, mas também por parte da empresa, em relação ao uso dos equipamentos de proteção individual, seja devido ao possível furto de energia que algum funcionário poderia se envolver, já que se trata de uma tecnologia especializada. A suspeição rege ainda a relação entre a empresa e os clientes pela possibilidade de uso de tecnologias que alteram principalmente a relação de consumo no momento da aferição de energia.

A tese foi construída a partir de uma etnografia realizada em Duque de Caxias, bem como de minha participação em técnicas de pesquisa quali e quanti durante o projeto P&D “Desenvolvimento de Metodologia ‘Mapa de Percepção de Riscos’ para a Análise da Variável Socioeconômica Violência no Diagnóstico de Perdas Não Técnicas de Energia nos Municípios de São Gonçalo e Duque de Caxias (RJ), o que possibilitou a emergência de questões contemporâneas sobre o furto de energia, novas formas de abordagem de fenômenos urbanos por conta da rede de pesquisa, bem como pensar as cidades que compõem a região metropolitana como uma “cidade urbana”, caracterizada não apenas por seus aspectos físicos e dimensionais, mas pelos aspectos sociais, os modos de divisão do trabalho e o tipo de mobilidade dos indivíduos.


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