Ismael Andres Stevenson Dechelette
Sonoridades;Antropologia;Favela
A partir de uma observação etnográfica como “morador” estrangeiro no Morro do Palácio, uma favela da Zona Sul de Niterói, a experiência sonora se transforma em um exercício antropológico para entender as formas de conformar o comum. Com a experiência do cotidiano surgem categorias que organizam as práticas sociais associadas às sonoridades, o “som” e o “barulho”.
Como se organiza a vida social do Morro do Palácio em um contexto de moradias “umas dentro das outras” em torno da questão sonora? Como os moradores se coordenam para poder coabitar em contextos de incômodos sonoros? O que a sonoridade nos diz a respeito dos mecanismos produzidos pelos moradores para administrar estes conflitos? Podemos sugerir a hipótese de que as sonoridades informam as moralidades que perpassam a ação?
No inicio, observei que as sonoridades se costuram às dimensões do espaço e do tempo, constituindo-se como um saber local, utilizado pelos moradores para se georeferenciar no “morro”. A questão das sonoridades acoplada à posição de morador me permite refletir sobre as moralidades. Decorrente disso, esboço a análise sobre a problemática das sensibilidades e sensorialidades como parte do processo de construção de um saber empírico e antropológico.
Observo, então, a composição de um espaço compartilhado, como referência ao comum, informada por uma partitura social que se esforça em manter a harmonia no regime doméstico, onde engajamentos, envolvimentos ou até acoplamentos são possíveis, em função da ação. Assim, uma arquitetura do social, informada por moralidades que visam harmonizar os incômodos das interações entre os sujeitos, origina uma prática social que chamei de encapsulamento sonoro, como uma tecnologia social local.
