Programa de Pós-Graduação em Antropologia

“Casa de Luz”: representações do islã turco e a construção de sujeitos morais na comunidade hizmet no Brasil

Autor(a):

Liza Dumovich Barros


Palavras-chave:

Movimento Hizmet;Fethullah Gülen;Islã e gênero;Comunidades muçulmanas no Brasil


Resumo

Essa etnografia da comunidade Hizmet no Brasil traz uma análise da construção do sujeito moral entre os seus membros, com o foco no grupo das mulheres, através da prática de um programa disciplinar baseado na tradição islâmica, aliado a atividades mundanas dotadas de sentido moral. A pesquisa se baseou em trabalho de campo etnográfico conduzido, majoritariamente, entre março de 2015 e dezembro de 2017, com as mulheres da comunidade Hizmet no Brasil, através da observação participante no seu cotidiano.

Essa comunidade se vincula ao Movimento Hizmet/Gülen, um movimento islâmico turco transnacional, com um caráter missionário, sob a autoridade carismática do líder religioso Fethullah Gülen. Presente em cerca de 150 países, o Movimento Hizmet se estabelece no Brasil desde 2004. A palavra turca “hizmet” significa “serviço” e é o termo usado pelos membros da comunidade para se referirem tanto ao movimento religioso de que são participantes, enquanto uma comunidade global imaginada, quanto às ações moralmente investidas nas quais eles se engajam no intuito de implementar o projeto “civilizacional” do seu líder religioso.

Essas ações possuem uma dimensão individual, de formação de si, e uma dimensão coletiva, de construção da comunidade e difusão da visão de mundo de Gülen. O meu argumento central é que a realização do hizmet (“serviço”) na diáspora, ou hicret, forma sujeitos disciplinados para viver em, praticamente, qualquer contexto e atuar em diversas áreas no mundo globalizado. Essa autonomia individual para habitar o mundo se sustenta numa autoconfiança e numa segurança da retidão moral dos seus próprios ideais; entretanto, ela é uma autonomia disciplinada, a qual existe na submissão interna às normas do Hizmet.

O sujeito moral do Hizmet constrói a si mesmo a partir do seu habitat e constrói esse habitat a partir de si mesmo. A minha conclusão se concentra na ideia de lar como a arena de habitar as normas entre os sujeitos morais do Hizmet, tal como ele se constituiu no Brasil.


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