Renan Abdouni Bon Meihy
Refúgio; conflito sírio; memória coletiva; sectarismo; diáspora
Esta dissertação se ocupa da análise das distintas trajetórias seguidas por refugiados do conflito sírio de diferentes grupos confessionais em São Paulo, associando-as aos diferentes enquadramentos narrativos promovidos nos âmbitos das comunidades religiosas sobre o motivo de sua migração forçada.
O histórico recente de tensionamento das relações interconfessionais na Síria provocado pelo conflito deflagrado em 2011 produziu o aumento das desconfianças mútuas e influenciou definitivamente nas interações dos contingentes de refugiados com a comunidade diaspórica paulistana.
A ausência de iniciativas estatais de integração social desses migrantes forçados, somada à notoriedade do conflito e à popularização das imagens sobre seus desdobramentos humanitários, transferiu a responsabilidade pelo acolhimento dos refugiados a organizações da sociedade civil, sobretudo às diaspóricas, cuja própria existência se deve aos fluxos transnacionais materiais e imateriais com a região matricial de sua identidade nacional e religiosa.
O resultado desse processo foi a formação de redes confessionais de solidariedade, as quais não se revelam como estritamente sectárias, no sentido de dedicar esforços exclusivamente à acolhida de refugiados do mesmo grupo religioso, mas, ao se estruturarem em torno das organizações diaspóricas pré-existentes, a grande maioria delas de caráter confessional desde sua criação, e em resposta à dinâmica cismogênica sectária instituída na Síria, acabaram por reforçar padrões narrativos sobre a guerra e os atores e grupos envolvidos no contexto político sírio.
Esses enquadramentos narrativos predominantes decorrem das memórias coletivas mobilizadas por empreendedores político-identitários implicados no campo político sírio e por agentes mantenedores da diáspora em São Paulo.