Rodrigo Ayupe Bueno Da Cruz
Comunidade melquita;Espaços sagrados;Interseção;Identidade confessional;Identidade interconfessional
Essa tese de doutorado estuda os processos de construção identitária da comunidade melquita a partir dos seus espaços sagrados, que podem ser igrejas, monastérios ou santuários de peregrinação. A pesquisa foi realizada em 14 meses de trabalho de campo entre os anos de 2014 e 2017 a partir da observação participante nas atividades rituais dessas instituições, sobretudo nos monastérios onde eu pude participar integralmente da vida monástica e assim compreender com mais acuidade o meu objeto de estudo.
Os espaços sagrados melquitas são instituições religiosas vinculadas à Igreja Greco-Melquita, que é uma das vertentes do Cristianismo Oriental. No Líbano, estes são vinculados também à comunidade melquita, que além de ser um grupo religioso, é uma entidade sociopolítica, de acordo com a constituição confessional elaborada após a independência do país.
Apresento essas igrejas, monastérios e santuários de peregrinação da comunidade melquita como lugares de interseção em virtude de ser um local performático de uma religiosidade de interseção no sentido de conectar dois referenciais normativos opostos do Cristianismo: o Católico e o Bizantino e no contexto libanês essa característica a coloca também em uma posição de interseção entre as comunidades cristãs mais importantes do país: a maronita, devido ao mesmo denominador católico, e a ortodoxa, pelo mesmo denominador bizantino.
A vivência dessa religiosidade se dá nos espaços sagrados da comunidade, seja por meio da prática de sua tradição ritual melquita, construída a partir do Rio Bizantino modificado pelas inovações latinizantes, pela devoção aos santos bizantinos e as imagens latinas ou então pelos santos maronitas e ortodoxos. A consequência disso é a atração de cristãos melquitas e não melquitas para esses lugares na medida em que a sua plasticidade atende as demandas de sujeitos com diferentes expectativas tanto por um lado católico, ou pelo bizantino ou então pela combinação de ambos.
No entanto, a interseção não é o único ponto que explica a atração desses sujeitos, já que através da análise do conteúdo desses espaços sagrados, observa-se que os elementos históricos, físicos, rituais e eclesiásticos desses lugares também influenciam na identificação de melquitas e não melquitas. O resultado da presença de diversas confissões, predominantemente cristãs, é a formação de uma dinâmica identitária a partir da mobilização de identidades confessionais e interconfessionais tanto da parte dos melquitas quanto dos não melquitas.
Tomando como referência os melquitas, observa-se a afirmação de sua identidade confessional e a nível interconfessional em consequência da convivência com outras comunidades em seus espaços, a mais comum é a utilização da identidade genérica cristã, mas em alguns contextos, sobretudo na sua relação com os maronitas e greco-ortodoxos eles podem usar referenciais intermediários como a identidade católica ou a bizantina, porém essa tese destaca a identidade confessional melquita e a identidade interconfessional cristã devido à sua importância política para esta comunidade na sociedade libanesa.