Luciana Freire Murgel
consumo;comércio;hospitalidade;dádiva;vinho
O propósito do presente trabalho é compreender o processo de consumo de vinho por parte de um grupo de pessoas das camadas médias altas do Rio de Janeiro que buscam fazer deste ato uma experiência, algo que envolve aprendizado de técnicas gustativas, regras, prescrições, além de conhecimento sobre as formas de produção e a própria história do vinho. A partir de uma “etnografia multissituada” – que incluiu trabalhos de campo no Rio de Janeiro, Paris e Buenos Aires – chegou-se à conclusão que a hospitalidade poderia ser usada como chave analítica para entender as trocas comerciais, as práticas e usos através dos quais o vinho é apropriado por estas pessoas, e assim traduzir representações, significados e o lugar que o vinho ocupa na vida delas, em termos de sociabilidade, formas de classificação da realidade e construção da identidade social.
Tal exercício convida a repensar o tema da hospitalidade e suas conexões com o mercado moderno, tentando responder até que ponto, e em quais contextos, as trocas comerciais e as trocas de dádivas podem coexistir e confluírem. Ao mostrar que as trocas de dádivas é algo que compreende o próprio negócio do vinho – que, neste caso se sustenta na “singularização” da produção e, ao mesmo tempo, no aspecto ritualístico do consumo desta bebida – essa tese tem como objetivo final contribuir para o campo dos estudos do consumo e sua interseção com a antropologia da hospitalidade e da dádiva, apresentando como os dois temas, quando relacionados, iluminam questões relevantes para o desenvolvimento do aparato teórico de um e do outro.
